17 FEV 2016

Sônia Maria Crivelli Mataruco, em entrevista ao nosso Jornal Diocesano.

Sônia Maria Crivelli Mataruco, formada em gestão de empresas, matemática e gestão ambiental, é coordenadora e professora do curso de Gestão Ambiental da Faculdade Fatecie e Gestora Ambiental da Sanepar. Em entrevista ao nosso Jornal Diocesano, Mataruco fala sobre saneamento básico, desastres ambientais, inclusive sobre a tragédia que aconteceu em MG e como a Igreja pode auxiliar no processo de melhorias quando o assunto é saneamento básico. Confira:

Com todos esses desastres ambientais que vêm acontecendo no país, quais são os assuntos mais discutidos e trabalhados na educação e na própria Sanepar quando o tema é saneamento básico?

Aqui dentro da Sanepar e mesmo na faculdade durante as nossas reuniões, o assunto é resíduos. Como as empresas podem dar um destino correto aos seus resíduos e assim desfrutar de uma água com boa qualidade. Outro assunto seríssimo e muito discutido é a proteção aos mananciais. Em Paranavaí, apesar de estarmos conseguindo abastecer a cidade, temos problemas. O nosso manancial padece de problemas comuns que vêm acontecendo no Brasil inteiro. As notícias que temos visto nos noticiários e nos jornais é algo real. Se sobrevoarmos a nossa área e a observarmos, veremos que várias represas romperam com essa última chuva e que os impactos foram terríveis para a própria população. Onde nós não conseguimos abastecer e nem fazer o tratamento adequadamente porque o nível de turbidez que chega aqui pra gente é muito elevado, são situações que fogem do controle. Quando há o rompimento de uma represa o tratamento que temos que fazer é outro, mais difícil.

Hoje o nosso maior problema é a falta de cuidados da população em geral com os resíduos e a proteção aos mananciais.

Nós precisamos de uma ação integrada do poder público, da população e da própria Sanepar.

Sônia e sobre o saneamento básico, basta dizer que todo tipo de doença vem da ausência de educação e práticas de vida sadia. Qual é a alternativa para que o saneamento básico aconteça de fato no Brasil?

Essa é uma questão bem complicada porque o saneamento não é visto. Quando você fala em esgoto tratado, você tem uma rede que está enterrada e para que ele realmente aconteça o poder público deve enxergar essa necessidade e entender que isso é sinônimo de saúde. Dados comprovam que a cada R$1,00 que você investe em saneamento básico, você economiza R$ 4,00 ou R$ 5,00 em saúde.

Quantos leitos de hospitais são utilizados para tratar uma diarreia ou uma virose devido à falta de saneamento básico e que poderiam estar livres e disponíveis para a população com doenças mais sérias como o câncer, entre outras?

Embora o estado do PR se destaque em nosso país quanto ao tratamento de água e esgoto, no Brasil em geral a situação não é boa. Nós temos o esgoto que é jogado a céu aberto, o esgoto que é coletado e não é tratado, a dengue, por exemplo, é um problema sério relacionado à água parada, à falta de cultura e educação.

Nós não estamos cuidando do nosso próprio quintal e por isso pagamos um preço caríssimo. O Brasil padece. Hoje temos a microcefalia que acarretará em sérios problemas futuros. Essas pessoas com microcefalia vão precisar de cuidados especiais que trarão um gasto a mais para o

estado e para as próprias famílias. Resumindo, o problema do saneamento básico é cultural, educacional e para que ele aconteça é necessário que exista uma mudança de hábitos, de costumes, de paradigmas.

É preciso investir em tratamento de água, de esgoto, incluí-lo em grade curricular e até mesmo as famílias deveriam estar engajadas. O saneamento básico é o ponto crucial do desenvolvimento de uma nação. Como nós estamos nos desenvolvendo se estamos jogando esgoto a céu aberto?

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 “A Campanha da Fraternidade com o

objetivo de asseguraro direito ao saneamento básico para todas as

pessoas é perfeita e veio de encontro à necessidade do nosso país.

A Igreja vaiatuar junto às famílias e a família por

ter consciência disso vai poder cobrar

do poder público, assim poderá haver

melhorias no saneamento básico”.

E quanto ao papel da Igreja? Como a Igreja pode interferir de maneira direta, para auxiliar nesse processo junto a Sanepar e aos outros órgãos competentes?

A Igreja é extremamente importante na vida das pessoas, eu digo que sem DEUS nós não somos nada e a Igreja atende a família. É a Igreja que vai mostrar o que têm que ser feito. Talvez a mudança de cultura e paradigma do nosso povo comece na Igreja. A Campanha da Fraternidade, com o objetivo de assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas, é perfeita e veio de encontro à necessidade do nosso país. A Igreja vai atuar junto às famílias e a família por ter consciência disso vai poder cobrar do poder público, assim poderá haver melhorias no saneamento básico.

Sônia, não tem como falar em saneamento básico sem falar na maior catástrofe

ambiental que ocorreu em Mariana, MG. Quanto tempo nós levaremos para conquistar o que perdemos e de que maneira isso vai acontecer?

Bem, é de extrema importância planejar as ações que deverão ser utilizadas para recuperar essa área. Foi feita uma degradação muito grande, muitas pessoas perderam suas casas, suas histórias e não têm indenização que cubra esses valores emocionais. Nesse momento precisamos pensar nas pessoas que foram agredidas por essa situação, depois na questão ambiental que deverá ser reestruturada e isso ocorrerá a médio ou longo prazo. Mais do que isso é o que essa empresa vai fazer para que algo semelhante não venha mais a acontecer. E mais ainda, quantas situações iguais a essa não estão a ponto de acontecer aqui no Brasil? Quando falamos em questão ambiental, nós precisamos alinhar o econômico, o ambiental e o social.

Infelizmente até essa catástrofe acontecer, o social não era tão questionado e é por isso que eu digo agora, que o primordial é olhar para aquelas pessoas que sobreviveram a isso tudo, depois, saber o porquê deixamos a questão econômica no topo e a questão ambiental e social em segundo plano. Se nós não tivermos um equilíbrio entre esses elementos, possivelmente teremos outros desastres como esse no Brasil.

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